terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

25% das ligações para o atendimento do 190 são trotes


Com cerca de 4.000 ligações por mês, o serviço de assistência gratuita da Polícia Militar, popularmente conhecido como 190, ainda esbarra em um grande entrave para uma melhor eficiência: os trotes. De acordo com o Capitão Marcelo Barros, coordenador do Comando de Polícia Militar- COPOM, diariamente o sistema de atendimento recebe aproximadamente 200 ligações, sendo que 25% delas são feitas por pessoas que não tem a verdadeira intenção de utilizar o serviço.

O sistema de atendimento que funciona no prédio do Comando Geral da Polícia Militar dispõe de dez cabines que atendem 24 horas, composto por atendentes especializados para gerar os mais variados tipos de ocorrência, que dependendo de fatores como local e histórico do fato, terão uma viatura disponibilizada até o local. “Os trotes geram um desperdício de tempo, combustível, viatura, sem falar no estresse policial devido à ocorrência frustrada. Isso dificulta muito o trabalho da polícia, pois os trotes ocupam as linhas telefônicas que poderiam estar sendo utilizadas em outros atendimentos, além do deslocamento de viaturas, que poderiam ser usadas em ocorrências verdadeiras”, explica o Capitão Marcelo Barros.

CRIANÇAS SÃO AS CAMPEÃS DE LIGAÇÕES
Segundo o Major Sá Júnior, os trotes em sua maioria são feitos por crianças, que principalmente em época de férias ligam para o serviço de atendimento, bem como pessoas que querem desviar o trabalho da polícia, como criminosos, sem mencionar em pessoas da comunidade que solicitam o atendimento do 190, mas com motivos que não condizem com o trabalho da polícia. “Isso é justificado através de uma cultura que a sociedade criou de todo e qualquer problema procurar inicialmente a polícia, como se todos os casos fossem de nossa competência. Apesar de parecer engraçado, são muitas as ligações reclamando que o lixo não passou, que o marido não chegou em casa, que faltou energia no bairro ou que alguém está incomodando na rua, pessoas com distúrbio mental ou mesmo os chamados ‘tarados’, que insistem em fazer ataque à mulheres e crianças”, aponta.

Atendente do 190 há mais de três anos, Lívia Macedo conta que de quinta-feira à domingo costumam ser os dias mais movimentados do plantão, devido a chegada do fim de semana. Assim como ela, os demais atendentes são devidamente treinados para identificar se as ocorrências são realmente verdadeiras e fazer um melhor uso do serviço de segurança da polícia. “Somos instruídos para pegar o máximo de informações possível da pessoa, mesmo que na maioria das vezes elas estejam nervosas e não saibam explicar bem o que realmente aconteceu. Isso é outro fator que atrapalha bastante o trabalho da polícia”, frisa Lívia Macedo.

Ainda de acordo com a atendente, é bastante difícil detectar o estado emocional das pessoas que ligam para o serviço de atendimento, daí ser bastante comum o uso de algumas técnicas para diminuir ainda mais a incidência dos trotes. Técnicas estas que contam com uma central que arquiva todas as ocorrências feitas durante os últimos anos, assim, quando uma pessoa reincidente na prática do trote ligar, não ser prontamente atendida, deixando a prioridade para outra pessoa. “A maioria das ligações é feita através de orelhões públicos, mas assim que o sistema recebe a ligação, prontamente localiza a área onde teoricamente esteja acontecendo a ocorrência, apesar desse sistema está sensivelmente desatualizado quando o quesito é precisão na localização dos fatos e agilidade na resolução dos casos”, afirma o Capitão Marcelo Barros.

IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA MAIS EFICIENTE
A fim de sanar esta deficiência, de acordo com o Major Sá Júnior, já foi aprovada a implantação de um novo sistema de comunicação na Polícia Militar, que além do serviço de rastreamento das viaturas por satélite já existente, ainda irá contar com a digitalização de todo o sistema. “Provavelmente no começo do próximo ano o sistema de comunicação digital já será implantado, dando maior agilidade ao trabalho da polícia e diminuindo o que chamamos de tempo-resposta, que é o espaço de tempo entre o horário da ligação e a chegada da polícia ao local”, explica o Major. O investimento está na ordem dos 3 milhões e o projeto foi feito pela Secretaria Nacional de Segurança Pública- SENASP.

Para o Capitão Marcelo Barros, que atua diretamente com a coordenação das viaturas para o atendimento da população, o melhor caminho para que os trotes caiam em desuso seja a partir de uma conscientização por parte da sociedade. “As pessoas tem que aprender a usar melhor os serviços públicos, até para que, quando realmente precisem dele, sejam prontamente atendidos com um serviço de qualidade”, opina.

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